terça-feira, 21 de julho de 2009

Arrependimento (34)

Depois que deixou a casa de Lary e parou para pensar no que tinha feito, se sentiu como estivesse traindo a confiança de Melissa, por não deixar ela lhe contar as coisas espontâneamente e assim ser um pouco menos desconfiado.

Mas sentia que precisava fazer aquilo, não queria mais uma vez se deixar levar apenas pelo que seu coração mandava, tinha que ser mais realista e enxergar as coisas com os olhos da razão, ainda mais se tratando de uma pessoa tão misteriosa quanto ela, que virou a vida dele de cabeça para baixo em tão pouco tempo, e mesmo sabendo que nada seria fácil, tinha alguma coisa em Melissa que o instigava a ir além daquele ponto, e chegar o mais longe possível.


Mas dentro dele havia um conflito muito grande, seus sentimentos diziam que sim, para seguir adiante e mais uma vez se jogar no abismo das incertezas da paixão e do amor.

Mas por um outro lado, estava começando a funcionar um mecanismo que ele não conhecia muito bem, uma coisa muito mais racional e conservadora, que dizia pra não se entregar e ser o mais frio possível naquela situação.

E que nesse momento tinha ganho a sua primeira batalha, que era a de investigar a vida de Melissa.


Prometeu a si mesmo que não faria grande uso das informações que pudesse conseguir, e que seria o mais natural possível quando a encontrasse de novo.

Coisa que já estava querendo muito fazer, mas precisava ir para casa cuidar da noite turbulenta e esquisita que teve, como se isso já não fosse normal em sua existência pós furacão Melissa.

Chegou em casa exausto e tratou logo de tomar um banho pra poder fazer uma limpeza adequada do seu corte, e também lavar algo que estava mais suja e cansada que seu corpo, sua alma.

Por estar sentindo as coisas que não queria admitir, e por achar que estava traindo Melissa antes mesmo de começar algo mais sério com ela.


Enquanto se molhava ia deixando a água escorrer por todo seu corpo, ficou assim sem se mexer durante alguns minutos, até perceber que estava ficando cada vez mais frio, e assim ele começou a sentir seu corte doer.

Uma dor que se não fosse pela felicidade que estava sentindo por ter conseguido beijar Melissa, o faria estremecer de ódio.

Respirou fundo e começou a se ensaboar pra acabar logo com aquele sentimento ruim, pedindo pra Deus que o fizesse cada vez mais forte, pra poder aguentar com sabedoria o que estaria por vir, e ele ia precisar muito da ajuda de qualquer um...

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Mais Dúvidas (33)

Enquanto estava no ônibus ficou pensando em Melissa, e em como ela era maravilhosa.
Como se já não bastasse ser linda e ter feito Filipe se apaixonar mais uma vez, tinha nela um ar de ser uma pessoa impossível de se conquistar, e aquilo sempre foi uma das coisas que faziam ele achar uma mulher interessante, não gostava de nada que fosse fácil.
Desceu no ponto da casa de Lary, e parecia que podia sentir e tocar a felicidade que vinha lá de dentro, não tinha como estar mais feliz naquela manhã de Domingo, e uma visita àquelas meninas maravilhosas ia fazer aumentar mais ainda esse sentimento.

Chegou no interfone e apertou o botão, esperou um pouco e atenderam, não deu pra distinguir a voz pois o som de campainhas sempre são ruins, e aquela não seria diferente.
Muitos chiados e risadas ao fundo mais uma vez, elas não paravam nunca, pareciam sempre ligadas o dia inteiro, e tinham uma disposição enorme, estavam acordadas desde Sábado e ainda mantinham um pique de quem tivesse na metade do dia.
Elas mereciam, trabalhavam muito durante a semana, e o único dia em que podiam se divertir daquele jeito, sem medo de ter que acordar cedo no dia seguinte era no Domingo.

Gritaram do outro lado da linha:
--ALOOOO, QUEM É?
--É O FILIPE, LIGUEI AINDA AGORA PRA LARY
--A LARY TÁ COM DOR DE BARRIGA E NÃO PODE ATENDER
Ele riu demais daquilo, era típico delas brincarem umas com as outras, percebeu que tentaram tomar o interfone da pessoa que estava falando, barulhos enormes e confusos podiam ser ouvidos por ele, ai ouviu:
--Me dá isso aqui!
--Toma sua chataaa!
--Oláááá, Filipe?
--Quem mais poderia ser a essa hora da manhã?
--Aquele pessoal que vende livros.
--Vai demorar mais quantas horas pra deixar eu entrar?
--Já vou ai...

Lary abriu a porta e veio descendo as pequenas escadas de sua casa, ladeadas por um jardim muito bem cuidado e verde.
Percebeu que nunca havia reparado nela muito bem, e que naquele dia pôde perceber como ela não havia mudado muita coisa dos tempos em que tinha apenas 13 anos, e já o surpreendia com a sua compreensão da vida, e principalmente por conversar com ele e nem perceber que estava falando com uma pré-adolescente.
Sempre dizia à ela que conhecia muitas pessoas de seus vinte e poucos anos, que seriam classificadas por ele como “portas” se comparadas com o intelecto dela.
Ela continuava com o mesmo rosto, os mesmo olhos expressivos e lindos que herdou de seu pai e sua mãe, tornando-se assim, muito mais bonita e delicada do que ele podia imaginar nos tempos passados.

Ela abriu o portão e Filipe lhe disse que tinha várias coisas pra contar até que pudesse explicar realmente o que queria, e Lary disse que não haveria problema, pois estava de bobeira e sempre estava disposta a ajudar os amigos.
Entraram na casa e as outras três meninas estavam assistindo a um seriado já antigo, mas que sempre reviam, pois as fazia lembrar da época em que não tinham tantas responsabilidades e questionamentos da vida adulta, naquele momento só delas, se sentiam crianças de novo, e no fundo, se sentiam assim sempre, pois tinham uma alma pura como de uma criança.

--Olá princesas!
Disse Filipe de modo carinhoso para elas, que nem prestaram atenção direito, estavam muito concentradas na tv, Lary nem precisava falar nada pra explicar o motivo de não responderem,ele sabia que eram desligadas demais pra perceber que tinha falado com elas.
Foram até o quarto dela pra poderem conversar mais sossegados, ele disse a Lary pra deitar na cama que a história era longa demais, enquanto ele ficou sentado na cadeira do pc de balançando de um lado para o outro, uma mania antiga que tinha.
Depois de explicar quase a metade da história, ela se levantou para pegar uma bebida para eles, já que percebeu que a história era muito longa mesmo.
Quando finalmente terminou, ela estava com os olhinhos arregalados de surpresa, e disse:
--E se o nome verdadeiro dela não for Melissa?
Aquilo foi como um soco nas esperanças dele, mas teve que admitir que fazia muito sentido, Lary era muito mais esperta que ele nesses assuntos, além de ter aquele faro de jornalista aguçado.
Mas não poderia desistir assim, estava muito perto de ter um relacionamento mais sério com Melissa, e se não pudesse descobrir as coisas com a ajuda de Lary, teria que descobrir aos poucos e lentamente...

domingo, 17 de maio de 2009

NILA (32)

Depois daquela afirmação de Filipe, Melissa deu o número do telefone celular dela.
Não queriam mais perder contato, combinaram de irem se conhecendo aos poucos, e assim tentando construir uma história juntos.
Eles foram caminhando de mãos dadas até um ponto de ônibus, pois já era quase de manhã e já estavam circulando.
Chegaram no ponto e começaram a rir juntos, grande ironia do destino eles estarem mais uma vez assim, só que agora estavam juntos e momentaneamente felizes, apesar de o dia de Domingo que começava a clarear fosse frio e chuvoso como daquele dia.

Filipe se ofereceu para levá-la em casa de táxi, mas como ele fez aquilo também querendo testar Melissa, pois sabia que não confiaria assim em mostrar onde morava,e a resposta foi a que ele tinha imaginado mesmo, um sonoro não dela.
Se beijaram enquanto esperavam o ônibus, depois o dela chegou primeiro, e ele disse:
--Agora você não escapa mais de mim!
Melissa apenas sorriu e subiu as escadas, de dentro mandou um beijo e soprou com a mão aberta.
Ele se sentiu feliz demais com aquele gesto, e percebeu que eles iam se dar bem.

Ficou esperando seu ônibus, mas enquanto estava ali lembrou de uma coisa que podia tentar pra desvendar um pouco mais de Melissa, mesmo sem ela saber, era amigo de uma jornalista que tinha muitos bons contatos, o nome dela é Laryssa, mas sempre a chamava de Lary, que coincidentemente era a prima de Jessy, e tinha uma irmã chamada Leryanne, as chamava de:”As meninas super poderosas do Y”.

Foi até um orelhão e nem se ligou em que horas eram, só foi se dar conta quando o telefone começou a chamar, eram quase 6 horas da manhã de Domingo, e ele já esperava levar um esporro enorme por aquilo.
Foi quando atenderam o telefone, estava uma confusão de vozes e gargalhadas, mas a voz do outro lado era inigualável, era Lary que tinha atendido o telefone, e disse assim:
--Quem quer me encher o saco a essa hora da manhã?
Gargalhadas mais altas ainda foram ouvidas por ele, logo presumiu o que acontecia:
--Menina, esse NILA deve dar um trabalho pros vizinhos né?
E riu também. Lary sabia que poucas pessoas podiam ligar pra ela naquela hora da manhã, e disse:
--Gente, peraí, é nosso primeiro fã de carteirinha desde a época do colégio!
As meninas disseram juntas, como sempre faziam:
--FILIPEEEEEEEEEEEEE!
Ele gargalhou alto no orelhão, assustando o jornaleiro que ficava ali perto, provavelmente pensando que se tratava de mais um bêbado.
--Fala Lary, preciso de um favorzinho seu...
--Fala coração.
--Posso dar uma chegadinha nessa reunião feliz?
--Posso pensar?.....CLARO!!!
--Tô indo praí então meu anjo, quero tomar café hein!
--Mas é mesmo muito folgado, me liga a essa hora e ainda quer filar meu cafezinho? Mas você sabe que pode né?
--Beijos menina.

E assim pegou um ônibus até o “Quartel General” do NILA, que era um grupo de 4 amigas de colégio, e que mantinham uma amizade verdadeira e sincera, se davam melhor do que se fossem irmãs, Nathy, Isah, Lary e Anne. O quarteto fantástico que fazia ele ainda acreditar numa amizade verdadeira de anos, e assim ser menos desacreditado no amor pelo outro.
Mal sabia que depois de algum tempo, Lary não chegaria até ele com notícias muito boas, mas ele precisava correr o risco...

sábado, 16 de maio de 2009

Faltando Peças (31)

Melissa mesmo sentindo todas as coisas ruins que a tornaram daquele jeito, não pôde ser tão fria a ponto de ignorar que Filipe disse aquela frase com todo seu coração, e começou a sonhar assim com um caso de felicidade entre os dois.
Mas justamente por estar gostando de verdade dele, estava achando melhor se afastar de uma vez por todas, quem sabe se mudar dali e nunca mais dar notícias.
Era o que estava querendo fazer, era o que seu lado racional estava disposto a fazer e esse lado sempre ganhava nas batalhas contra os seus desejos, mas não ali, não naquela hora, não com ele!
Começou a se sentir estranha pois nunca havia pensado que um dia isso fosse acontecer, que fosse se apaixonar por uma pessoa, que fosse querer desejar uma pessoa tanto quanto ela o desejava.

Nessa primeira confusão de sentimentos e pensamentos, ela disse:
--Pode não parecer, mas eu tenho sentimentos e isso que você me disse mexeu muito comigo.
--Eu não te acho um monstro, alguma vez agi como se você fosse um?
--Nunca, você sempre se mostrou um anjo nas vezes que tentou me explicar as coisas, e eu sou muito grata por isso.
--Eu não quero a sua gratidão, eu quero uma chance.
--Chance pra que?
--Uma chance de te mostrar que o mundo não é tão feio quanto você pinta na sua imaginação.
Ela deu uma risada estranha, quase como se fosse uma gargalhada contida, e ele continuou:

--Do que você tá achando graça? Admite que a vida pode ser mais alegre e feliz?
--Não, tô rindo do seu otimismo.
--Percebi que você é um bichinho de sete cabeças mesmo, mas sabe de uma coisa interessante sobre mim?
--Além de você ser bom com as palavras? E tenho que admitir, seu beijo é o melhor de todos, mas isso não basta pra entender a minha vida...
--Isso que eu ia te falar, eu adoro um desafio, adoro mulheres misteriosas e complexas, e você é um quebra-cabeças que minha criança quer resolver, nem que leve a vida toda.
--O problema maior de quebra-cabeças, é que na maioria das vezes, os mais difíceis de serem montados, aqueles com muitas peças minúsculas, você vai montando, montando, gasta várias horas do seu dia, e até dias, e quando está quase tudo solucionado, você percebe que tem peças faltando,
você não se sentiria desapontado com isso?

Depois que Melissa terminou de falar, Filipe quase fica sem saber o que responder, logo ele que tinha sempre resposta pra tudo, mas aquilo ali não se tratava de uma brincadeira de colegial, eram duas vidas em jogo, duas almas que estavam querendo se unir, mas alguma coisa ainda as repelia.
Então ele respondeu:
--As pessoas comuns sim se sentiriam desapontadas, e com certeza destruiriam todo progresso já feito, mas não eu, não mesmo.
--E o que o “senhor seguro de si” faria?
--Quer mesmo saber a resposta? A “senhora problema” tá preparada pra ouvir?
--Manda lá sabichão.
Disse aquilo já em tom de brincadeira e dando um empurrão na barriga dele, ela estava sorrindo, e Filipe percebeu que era hora de surpreendê-la. Então disse:
--Vou até o inferno atrás das peças, e se eu não achar, a gente inventa uma, e escreve uma nova vida juntos...

quinta-feira, 14 de maio de 2009

O Medo (30)

Aquele beijo destruiu completamente todas as expectativas que ele havia sonhado, foi muito mais especial do que poderia imaginar, num lugar não muito comum, naquela hora e com aquele tempo frio e chuvoso.
Com todas as adversidades daquele momento, não podia deixar de sentir o amor que já existia entre os dois, sua alma estava tranquila e finalmente sentiu que se morresse ali, teria concluído com êxito uma das missões mais difíceis de sua vida, beijar aquela mulher como sempre quis.
O beijo dela era diferente de tudo que ele já tinha experimentado, sua boca era quente e sua língua se movia bem devagar, como se estivesse fazendo carinho uma na outra.
Enquanto seus corpos se procuravam, Filipe passava a mão direita na nuca de Melissa, fazendo movimentos de massagem, ela ficava cada vez mais relaxada e sua respiração era um misto de ofegante, com uma coisa calma, quase um suspiro.

Terminaram de se beijar e deram um sorriso de satisfação, sentiam a mesma coisa um pelo outro o que os tornavam iguais nesse aspecto.
Melissa pode ter tempo de mais uma vez se preocupar com o corte em seu braço, e dizer novamente que tudo era por culpa dela.
Filipe disse que tudo aquilo tinha que acontecer, pois havia aprendido que se uma coisa chega até ele facilmente demais, e rápido demais, ela se vai com mais rapidez e intensidade do que chegou, fazendo assim com que se arrebente todos os sentimentos bons que tinha sentido.
Todas as coisas que aconteceram foram perigosas, frustrantes, trágicas e tristes até aquele momento, e então depois de explicar o seu ponto de vista, ele pergunta à ela:
--Quando é que a felicidade e a paz entram nisso tudo?

Depois dessa pergunta, o sorriso e o rosto alegre de Melissa desapareceram, assim como ela sempre fazia fugindo dele.
Jamais imaginaria que uma simples pergunta fosse mudar completamente o clima entre os dois, já prevendo o pior, abraçou-a e pediu desculpas carinhosamente, assim ela não poderia sair correndo dele como sempre fazia.
Então ela disse ainda sobre a proteção de seu abraço:
--Parece que a felicidade e a paz nunca estão no mesmo lugar que eu...

Ela disse aquilo de uma tal forma que Filipe ficou estático, pensando na besteira que fez em fazer aquela pergunta, mas achou melhor que ela abrisse o jogo com ele logo, e dava pra perceber que mais uma vez estava se metendo em encrenca, uma encrenca das grandes, mas prometeu a si mesmo que iria até o final.
Não importava mais o que poderia acontecer com ele, àquela altura do campeonato estava disposto de corpo e alma a dar a vida se fosse preciso para ser feliz com ela, e de uma vez por todas fazer com que Melissa tivesse um pouco de felicidade.

Melissa então foi se soltando dos braços dele e falou:
--Você não merece uma pessoa como eu, sou problemática demais.
--Tarde demais pra você me dizer isso, mesmo sem te ter direito, não consigo me ver sem você.
--Comece a enxergar um futuro sem mim, desde sempre foi assim, alguns dias atrás você nem sabia meu nome, e eu sempre faço besteira mesmo, não deveria ter te deixado bilhete nenhum.
--Mas mesmo sem deixar bilhete nenhum você já tinha deixado seu recado num lugar difícil de se chegar...
--Tenho medo da resposta, mas vou perguntar, onde?
Ele pegou a mão esquerda de Melissa e levou até a direção do seu coração, depois foi subindo até chegar na sua cabeça e disse:
--No meu corpo e no meu espírito, desde que te vi muitas coisas mudaram em mim,e não vou deixar você escapar de mim, nunca mais.
--Mas eu não sinto a mesma coisa que você, aceite isso!

Ela disse isso tentando fingir o que sentia,e Filipe disse:
--Esqueça todas essas dores que você sente e aprendeu a esconder tão bem, comigo vai ser diferente, além do mais, ninguém consegue mentir pra mim, vejo a verdade nos olhos das pessoas.
--Você é realmente especial demais, não quero te machucar, sei que vou te magoar mesmo sem querer, isso sempre me persegue, nunca consigo ser plenamente feliz.
--O que você quer que eu faça? Que te apague da minha memória? Já perdi a memória uma vez, e não vou perder de novo!
--Eu não sei se você está sendo sincero comigo!
Gritou Melissa finalmente mostrando seu maior medo, de que ele estivesse a enganando.
Filipe a puxou do banco pra ficarem de pé, e assim, a fez olhar bem dentro de seus olhos e falou:
--Se você pudesse ver além de meus olhos, e enxergar o que está escrito na minha alma, sabe o que você leria escrito em letras garrafais?
Melissa fez sinal de que não sabia o que era,e Filipe com lágrimas nos olhos responde:
--TE QUERO!!!

O que vem fácil, vai fácil...(29)

Aquela voz o fez sentir novamente a alegria que tinha perdido na sua busca por Melissa, foi se levantando devagar como que estivesse em câmera lenta, queria aproveitar aquele momento por mais tempo que conseguisse prolongar.
Começou a sentir o perfume dela, percebeu que Melissa estava chorando e dando pequenos soluços bem ali atrás dele, se virou e a encontrou toda encharcada, com a maquiagem leve totalmente borrada, os cabelos molhados jogados pela frente de seu rosto triste e totalmente arrasado.
Quando ela viu que Filipe tinha um corte em seu braço, ficou muito triste e se sentiu culpada por aquilo ter acontecido, pois achava que tinha se machucado quando caiu em cima dos cacos de vidro dos copos que caíram da mesa.

Ele a pegou pelo braço e foram andando até um banco que tinha perto dali, estava totalmente sujo de sangue e da lama do chão, mas ela não se importava com aquilo, sabia que tinha feito aquilo tudo apenas para achá-la, e ninguém nunca tinha feito isso antes, se arriscar à uma caçada de madrugada pra ter um encontro.
Fez Melissa se sentar primeiro e antes passou a mão no banco, pra poder tirar as folhas molhadas que estavam nele, sentou-se logo depois ao lado dela.
Não queria dar chance pro azar e foi logo falando:
--Olha, eu não te conheço nem um pouco, a não ser saber seu nome, e que você fez uma coisa contra mim do qual se arrependeu sinceramente, sou grato por você ter me salvo naquele dia, tantas coisas aconteceram depois que eu nem consigo saber por onde começar.
Melissa pegou um pequeno lenço rosa que tirou de dentro de sua calça, e foi enrolando no corte de seu braço pra poder fechar e não deixar exposto ao tempo.
Filipe sentiu uma sensação de alívio muito grande com aquilo, além de estar sendo cuidado com muito carinho por ela, percebia que era feita de carne e osso, de sentimentos, e que não se tratava de uma qualquer que dança em boates, pensou em perguntar-lhe várias coisas, mas não conseguia elaborar uma questão sequer.

Finalmente ela falou:
--Te peço mais uma vez perdão por tudo que lhe fiz passar, não era a minha intenção, mas eu estava passando por um momento muito difícil e a minha única saída foi aquela, e como nunca tinha feito aquilo, apesar de todo mundo já me julgar antes de me conhecer, não tive coragem pra deixar eles te machucarem.
Ela parou de falar de repente e olhou pro chão, pegou uma das folhas e ficou arrancando pedacinhos dela, como se fosse uma criança se distraindo.
--Não foi somente por eu nunca ter feito aquilo que fiquei arrependida, senti em você uma pureza que não sentia em ninguém, aquela hora em que joguei o celular longe era pra você ter ido atrás de mim, pois eu não estava sendo vigiada,e ia te explicar o motivo de estar ali.
Tudo que tinha acontecido naquele dia estava começando a fazer sentido, conforme Melissa falava, as nuvens negras da dúvida se dissipavam cada vez mais.
--Eu estava chorando de desespero, eu não tinha outra saída.

Depois que terminou de falar tudo para ele, houve um pequeno silêncio de ambas as partes.
Então ela continuou:
--Quando te vi naquela festa com outra menina dormindo no seu colo, meu mundo tinha desabado, pois eu nunca havia sentido nada assim por alguém, ainda mais por uma pessoa desconhecida.
--Somos dois então menina.
--E eu não quero atrapalhar o relacionamento de ninguém, não quero destruir o que vocês tem, não nasci pra isso, só fico com muita raiva de sempre me apaixonar pela pessoa errada, e mais uma vez isso acontece.
Filipe então a puxou e a beijou com muito desejo, os segundos viraram horas, e seus sentidos pareciam estar adormecidos, seus corpos entraram em profundo torpor.
Aconteceu o tão esperado beijo, e foi apenas o início de uma jornada rumo ao desconhecido, cheio de incerteza, alegria, tristeza, surpresas e choros, tudo que é fácil vai embora fácil...

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Desespero (28)

Parecia brincadeira, uma grande ironia do destino, de novamente estar chovendo como na primeira vez em que se viram, mas desta vez o vínculo que já havia entre eles, fez Filipe esquecer de tudo que seria racional naquele momento, ir até um hospital pra poder parar aquele sangramento que não o incomodava nem um pouco, a não ser pelo fato de sentir seu sangue quente se misturando com a chuva fria em seu braço.
Não se comparava à tempestade do primeiro dia, mas por já ser de madrugada e fazer frio, aquela chuvinha estava piorando a situação daquela noite que era pra ser a melhor de todas.
Eram poucas nuvens e não demoraria muito para acabar, estava estranho demais, dava pra ver a Lua por entre elas e ajudava assim, a aumentar a sua coragem.

Foi caminhando com os olhos vidrados, com a concentração e adrenalina explodindo.
Viu um casal parado debaixo de uma marquise de um bar que já estava fechado, foi se aproximando até eles e percebeu que a menina foi para trás do namorado, num gesto de medo, Filipe quase se esquece que ele era um louco andando na chuva e com um corte no braço, mas não havia tempo para explicações.
Deu a descrição de Melissa para o rapaz, que o indicou o caminho apenas com o dedo indicador sem dizer nada.
--Obrigado, desculpa assustar.
Saiu correndo em direção ao local, mas não sabia exatamente onde ela poderia estar, a única coisa que tinha que fazer era confiar na sua intuição, e pedir um pouquinho da ajuda dos céus.

Ouviu um carro se aproximando rapidamente dele, eram as meninas que estavam preocupadas com o que tinha acontecido, Jessy saiu e mandou parar:
--Você tá maluco? Já não acha que foi longe demais nessa história? Olha pra você.
E apontou pro seu braço que não parava de sangrar, enquanto isso Pri saia do carro aflita pra ver a gravidade do corte, olhava seu braço sem Filipe nem sentir, ele estava anestesiado por tudo, pela situação, pela chuva e pela frustração.
No que ele voltou a si e respondeu:
--Desculpa, mas eu já fui longe demais mesmo. Por isso não vou desistir assim. Volta pro carro e me deixa fazer a minha loucura, essa mulher me trouxe vida, ela me ensinou a viver sem ter medo, e eu não tenho medo de mais nada, só de nunca mais encontrá-la.

Jessy sabia que não adiantava tentar fazer ele voltar atrás, entraram no carro e foram indo em frente, Pri ficou preocupada em tê-lo deixado sozinho,mas confiava no que Filipe fazia, era uma das pessoas mais corretas e sensatas que já tinha conhecido.
Sabia que se viraria bem, e chegaria em casa sem mais confusões, mas tudo que tinha acontecido com ele por causa de Melissa, ela começava a sentir raiva, uma raiva misturada com ciúmes.
Não se conformava por ele ir atrás de uma mulher que sequer o tenha beijado, coisa que ela já tinha feito várias vezes, quase se deixa cair em tristeza, mas se lembrou que Filipe odeia pessoas inseguras, e mesmo estando assim, não poderia demonstrar aquilo.

Continuou seu caminho na noite fria à procura de Melissa, e não pararia nem que tivesse que rodar o Rio de Janeiro todo.
Foi chegando em uma praça grande e bastante iluminada, cheia de árvores e flores que deixavam o ar muito agradável, foi por um caminho que parecia ter sido planejado com muito cuidado, pois as “paredes” eram todas feitas de árvores grandes, criando um ar acolhedor, mas que naquela hora parecia ser um pouco sombrio.
As flores foram ficando pra trás e com elas seu perfume, o barulho da chuva era abafado pelas grandes árvores que o cobriam como se fosse um imenso telhado de verde, só sentia o cheiro da terra molhada misturada com a neblina que fazia.

Já estava cansado demais, e já começava a andar mais devagar, foi ai que teve reção a dor em seu braço, colocou a mão por cima pra aliviar um pouco a dor que começava a sentir.
Conforme seu corpo ia dando sinais de reação, a dor, o cansaço e o frio, começou a dar um nó na garganta e uma vontade enorme de chorar, e como não era um choro de felicidade e sim de raiva, de ódio e de impotência, deu um berro pra se libertar daqueles sentimentos:
--MELISSA!!!!!!!!!!!!!!
Se sentiu fraco demais depois disso, como se tivesse levado uma grande surra e caiu de joelhos no chão, desabando em lágrimas e se afundando em seus próprios pensamentos.
Ficou naquela situação durante alguns minutos sem se dar conta de mais nada, apenas chorava e colocava pra fora tudo de ruim que estava em seu coração, foi quando ouviu uma voz chorosa e meiga:
--Estou aqui...