quinta-feira, 30 de abril de 2009

Na Festa De Jessy (15)

Os dias da semana foram passando e o conselho de Késsia não saia da cabeça dele, ele realmente tinha que encontrar Melissa, e resolver de uma vez por todas aquele impasse.
Késsia disse pra ele que tinha uma festa na casa de uma amiga em comum deles, na sexta-feira, e que seria bom ele ir pra poder encontrar gente nova, e reencontrar os velhos “amigos”.
Ele concordou na hora, pois ele já estava cansado daquela vida que levava de ficar trancado em casa, aprisionado no seu próprio mundinho perfeito e totalmente entediante.

Então na hora do almoço ele ligou pra Jéssyca, e dise que a presença dele era garantida por lá.
Ela se espantou por ele querer sair de casa, e disse:
“Até que enfim você resolveu viver hein seu viadinho!”
“Depois de tudo que passei Jessy, tenho que experimentar as coisas antes de morrer”
“Sempre te falei que a gente não pode se prender às pessoas que nos fazem mal”
“Mas não se trata de ninguém meu anjo, era a minha atitude que me deixava insuportável”
“Ainda bem que você acordou pra isso né? Na maioria das vezes nem eu te aturava”
“Você sempre foi minha salvação menina”
“Mas então, vai estar cheio de gatinhas aqui, quem sabe você não arruma a mulher da sua vida?”
“Você não sabe de nada Jessy, acho que ela já me encontrou”
“Como assim? Me conta isso agora!”
“Espera até sexta meu amor, te conto tudo ai, beijão, está na minha hora”
“Tchau meu lindo!”

Ele tinha ido em poucas festas que Jessy promovia, só ia mesmo nas mais íntimas, onde ele se sentia protegido por ela, que sempre esteve do lado dele nos momentos mais difíceis.
E como ela era uma ótima anfitriã, ele sempre adorava ver o jeito como ela andava entre os convidados, parecia uma deusa no meio de tantos mortais, que clamavam pela atenção dela, por um simples cumprimento.
E ele se sentia orgulhoso demais por ela, e orgulhoso por ele nunca ter precisado fazer nada de extraordinário pra chamar a atenção dela.
Foi ela quem mais o ajudou na época em que ele estava passando por um momento na vida sentimental muito turbulento, em que ele achava que a vida já não tinha mais sentido, e com o jeito sincero e brincalhão de Jessy, ele se sentia sempre mais motivado e feliz em seguir em frente com a vida.

Chegou o dia da festa e Jessy fez questão de buscá-lo em casa, ela disse que ele tinha que chegar com ela, e de mãos dadas.
Chegaram lá e todas as meninas olharam pra eles, e ela disse:
“Olha só quantas meninas estão com inveja de mim agora”
Ele riu e ficou com um pouco de vergonha, afinal de contas ele ainda não tinha acostumado com aquela nova fase da vida, ele tratou de ir pegar alguma coisa pra beber, pra poder se soltar mais, e ele admitia que o álcool realmente era mágico nessas situações.

As horas foram passando e ele ficou com vontade de tomar um pouco de ar puro, e foi até a sacada da casa de Jessy, foi com seu copo de Vodca na mão e ficou ali debruçado olhando pro céu.
Ficou imaginando onde estaria Melissa naquela hora da madrugada, se ela estaria fazendo seu show na boate, se ela já estaria chegando em casa, ou coisa pior, se ela fazia programa pelas ruas...
Aquele pensamento ele tratou de tirar da sua cabeça rapidamente, seria coisa demais pra uma pessoa só admitir que estava apaixonado por uma pessoa tão diferente dele, e ele achou que não seria capaz de abrir mão de seus valores, pra poder ficar com uma pessoa que vendia seu próprio corpo, e não se tratava de hipocrisia dele, pois ele se orgulhava de nunca ter precisado pagar por sexo, ele não suportava a idéia de saber que aquilo não seria verdadeiro, que não rolaria nenhum tipo de sentimento, nem mesmo tesão.

Os minutos voaram enquanto ele estava pensando onde ela poderia estar, e ali de fora estava tranquilo e muito mais silencioso do que lá dentro, isso deu a margem que ele precisava pra se perder mais uma vez na sua própria mente.
De repente entrou um carro em alta velocidade na rua, e ele achou que seria mais um dos convidados da festa um pouco mais empolgado, o carro parou alguns metros além do portão da casa de Jessy e freiou, a porta do carona abriu rapidamente e Melissa saiu de dentro correndo...

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Voltando À Rotina (14)

Nesse mesmo dia ele ligou para o trabalho perguntando se poderia voltar, ele sabia que explicando tudo como aconteceu, sem contar muitas mentiras ele seria aceito de volta, além de ser um ótimo funcionário ele era amigo de todos na empresa.
Ele trabalhava numa empresa grande, era encarregado de fazer a manutenção nos computadores da empresa, e sempre ficava pra lá e pra cá o dia inteiro, conversando com todas as pessoas, e apesar de ele ser um cara fechado, conseguia ter a amizade de quase todos.

Ele se dirigiu até o seu chefe primeiramente, e contou toda a história em detalhes, e depois de alguns bons minutos no escritório dele, ele poderia voltar ao seu trabalho normal.
Ele foi começar seu trabalho de rotina, que enquanto ele não estava presente foi feito muito bem pelos seus colegas de setor, mas ele era o melhor de todos mesmo, e merecia o cargo que ele tinha.
Por causa disso, somente entre o pessoal da manutenção técnica, ele não era muito bem aceito entre eles, pois ele sempre era muito na dele, e mesmo assim, as pessoas sempre exigiam que ele fosse resolver os problemas delas.
Apesar de uma sobrecarga enorme de trabalho por causa disso, ele sempre amou o que ele fazia, que era ajudar as pessoas com seus talentos, não só talentos profissionais, mas como ele também era um bom conselheiro pros amigos mais íntimos.

Chegou a hora do almoço e ele foi se encontrar com a sua melhor amiga na empresa, uma menina dessas bem expansivas mesmo, espontânea e que sempre arrancava gargalhadas dele, seja com as coisas que ela falava, ou com o jeito dele de nunca se importar com nada que ela fizesse, ela simplesmente fazia e pronto.
Ficaram conversando sobre tudo que tinha acontecido com ele, e ela como todo vez fazia perguntou a ele quando que ele iria achar uma mulher pra casar, e ele respondeu:
“Assim que você achar um homem pra casar”
Eles riram muito disso, pois sabiam que aquilo hoje em dia era praticamente impossível, ninguém queria compromisso com ninguém, queriam apenas curtir a vida do jeito que desse, e ele mesmo tinha provado um pouco daquilo, e admitiu que era realmente bom.
Curtir a noite sem compromissos, sem cobranças e sem ter que dar satisfações pra ninguém, disse pra ela que estava numa de mudar a personalidade e ser mais acessível, mais sociável mesmo, ela concordou e deu um beijo no rosto dele, saindo correndo pro banheiro, ela era sempre assim, imprevisível e autêntica.

Ele ficou esperando ela voltar do banheiro lembrando de Melissa, e achou que era hora de admitir que estava apaixonado por ela, ele não podia mentir para si mesmo, e resolveu contar à Késsia o que estava acontecendo.
Quando ela voltou ele foi contando a história toda, que é claro, não deu pra terminar antes da hora do almoço acabar, então ela disse:
“Te encontro no final do dia, nós vamos sair pra beber, e você vai me contar tudo, e com todos os detalhes sórdidos!”
Ele riu e concordou com a cabeça que sim.
Saíram juntos para irem até o bar que o pessoal costumava fazer o happy hour, enquanto ele foi contando a história com detalhes, ela ia se agitando na cadeira, mexia o gelo do copo de bebida com os dedos, arregalava os olhos, estava muito inquieta mesmo.
E ela disse no final das contas que ele tinha que de qualquer forma, ir até essa boate e procurar a tal mulher.
E ele nem precisava desse pequeno empurrão pra cometer o maior erro da vida dele:
Se envolver com Melissa...

terça-feira, 28 de abril de 2009

Se Jogando De Cabeça (13)

Depois de ter achado Melissa ali, no meio daquelas meninas, as conclusões que ele tirou dela não foram nada boas, ele que já era acostumado a julgar as pessoas mesmo sem conhecer, mesmo sem elas terem dado nenhuma demonstração de como sua personalidade é, ele já tirava conclusões erradas de muitas pessoas, e Melissa, já tinha dado muitas demonstrações negativas pra ele.
Armar pra ele ser roubado, quase ter feito ele morrer, mesmo que sem ter a intenção de matá-lo, mas ele também pensou que valeria a pena aparecer naquela boate, e colocar toda aquela história a limpo.

Pegou uma toalha e foi tomar seu banho, enquanto isso a menina que estava com ele tinha acabado de acordar e foi ao banheiro também para urinar.
Como no banheiro dele tinha box, a menina podia usar a privada enquanto ele tomava banho.
Ela disse um “bom dia”, com uma voz num misto de cansaço e de vergonha, pois nós sabemos que essas horas devem ser realmente bastante embaraçosas.
Duas pessoas que não se conhecem, naquela ressaca física e mental do dia seguinte, após uma noite que eles sabiam que tinha sido incrível, mas a vergonha era inevitável.
Ele respondeu meio que dando uma risada, e ele ouviu a porta do box se abrindo, e sentiu as mãos dela o segurando pelo peito, arranhando tudo, como quem quisesse mais.
Ele se virou e mais uma vez experimentou os prazeres da carne.

Ela ficou esperando no banheiro enquanto ele foi buscar uma toalha pra ela, ele pegou uma toalha limpa que estava no seu armário, e também uma blusa dele branca e simples, pra ela se vestir e ficar menos envergonhada.
Levou a toalha e a blusa pra ela no banheiro, que agradeceu dizendo:
“Você é um anjo”
Ele apenas sorriu e foi para a cozinha preparar alguma coisa pra eles, ele podia não sentir nada por ela, mas ele era seu anfitrião, e não podia negar que ela era um ser humano com necessidades normais, e ele tentou não ser muito frio com ela.
E foi o mais amável possível, ela sentou no colo dele na cadeira da cozinha, enquanto comia e fazia carinho nele, ele até se sensibilizou com aquilo, e percebeu que todos nós temos um pouco de carência na vida, mesmo que a gente tente esconder isso atrás de noitadas e bebidas.

Depois de comerem ela foi se arrumar,e na despedida se beijaram ainda com o gostinho de café na boca, eles sorriram e ela deu um papel com o nome dela e um número de telefone pra ele, e disse pra que se um dia ele se cansar daquela vida de ficar solteiro, que ligasse pra ela, que ela iria ser a namorada dele.
Ele deu uma gargalhada e disse que talvez ligasse antes de ela sair da casa dele, pura mentira, ele disse aquilo apenas pra ela se sentir mais alegre e menos usada.
E além do mais, ele queria que naquele papel estivesse o telefone de outra pessoa, mas ele sabia que o grande dia estava pra chegar, e ele não conseguia conter a sua ansiedade por causa daquilo, o que ele não sabia era que a vida dele ia mudar muito, de novo, e pela mesma mulher, Melissa não era nada simples de se entender, e ele ia sofrer as consequências de tentar decifrar aquela menina...

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Nada É Tão Simples (12) Fim da Primeira Parte

Depois de ler o recado ele sentiu duas coisas diferentes, decepção por pensar que se trataria de uma carta mais bem elaborada, dizendo os motivos pelo qual ela tinha feito aquilo com ele, e sentiu também felicidade por ela ter voltado atrás e o tirado daquela enrascada enorme, e ainda por cima agora ele tinha uma coisa concreta, o nome dela: Melissa.

Bem que ele queria que tivesse um número de telefone, um endereço marcando um encontro, mas nada na vida é fácil, e o que vem fácil, vai embora mais fácil ainda, e analisando pelos fatos que ocorreram com ele, se fosse acontecer alguma coisa, seria um sentimento intenso demais, um sentimento que ele nunca havia presenciado.
Ficou fazendo planos de como ele conseguiria chegar naquela mulher, de como ele iria encontrar e jogar limpo com ela, e entender o que ele estava sentindo de uma vez por todas.

Mas não era hora de ficar tentando descobrir o futuro, era hora de dormir um sono tranquilo, sem medo de que nada de ruim fosse acontecer, apenas fechar os olhos e se deixar levar pelos pensamentos, quem sabe ele não encontrava com ela em sonho.
Ficou ali pensando nas coisas que aconteceram e rapidamente pegou num sono profundo, daqueles pesados mesmo.
O seu cansaço físico e mental era tanto, que ele não sonhou com absolutamente nada.

Acordou com o telefone tocando e no susto atendeu, era um de seus poucos amigos o chamando pra sair, pra comemorar a volta dele, e ele achou que seria uma ótima idéia pra começar uma vida nova, uma vida sem medos, sem antipatias, uma vida pra ele se tornar outra pessoa, vestir um outro personagem.
Ser aquele cara indispensável pra qualquer pessoa, uma pessoa muito mais sociável do que ele jamais sonhara em ser, e aquele momento era perfeito pra isso.
Aceitou na mesma hora o convite.

Se levantou e foi fazer a barba, olhou na carteira e estava quase sem nada, pegou seu cartão do banco que ele guardava sempre na gaveta do quarto, e colocou dentro da carteira, pra depois ir em um caixa eletrônico e sacar dinheiro, ele sentia que naquela noite alguma coisa boa demais estava pronta pra acontecer.
Se arrumou e colocou seu melhor perfume, quando chegou na rua já estava bem escuro, já eram quase dez da noite daquele sábado, estava um clima frio, misterioso, com cheiro de noite.
Foi na casa de seu amigo pra eles irem de carro até à boate.

Passaram na casa de algumas amigas pra todos irem juntos, e como não poderia deixar de ser, aquela curiosidade mórbida que quase todas as mulheres tem de saber do que aconteceu, perguntaram a ele como tinha acontecido tudo.
Ele deu uma resumida e ficou olhando a reação das meninas pelo espelho do centro do carro, olhando nos olhos de cada uma delas todas as vezes.
Ele sabia que nessa sua nova fase ele seria o caçador, e não a caça, então ele tinha que mostrar quem ele era, através do seu olhar e do seu jeito de se relacionar com as pessoas.

Chegaram na boate e foram entrando sem passar pela enorme fila que estava formada, regalias que seu amigo tinha por ter uma amizade muito grande com todos os seguranças de lá, pois quase todas as noites ele aparecia por lá, e fazia questão de deixar algumas bebidas pagas para eles depois que a
boate era fechada, e eles sabiam reconhecer que ele era um cara realmente gente boa.
Chegaram até a mesa da boate e se sentaram num primeiro momento, apenas pra começar a esquentar, todos tomaram uma dose de Vodca, e depois mais uma dose de Tequila, e nessa hora ele começou realmente a se sentir vivo, estava sendo pleno e feliz durante aqueles minutos, e ele que achava uma perda de tempo sair a lugares como aqueles.

Altas horas da madrugada, e todos já estavam quase cansados de tanto dançar, na pista de dança ele viu que podia exorcizar todos os seus demônios, jogar pra fora toda a sua raiva acumulada durante aqueles dias, aqueles anos em que ele viveu somente no seu casulo.
Ele se sentia completo e realizado, e decidiu que aquilo sim que era saber viver, durante algumas horas esquecer de tudo e de todos, e se envolver naquele clima quase que sexual que as boates ofereciam.
Ele viu então que tinha uma menina muito bonita chegando pra perto dele, era loira e estava usando um vestido preto.
Se fosse com o antigo homem que ele era, ele nem sequer estaria ali na boate, e viu que ele podia ser quem ele quisesse, pois a sua essência jamais mudaria por causa de algumas noites sem dormir.
Chegou perto da menina, e sem muita cerimônia a beijou, ela correspondeu com a mesma intensidade, e seu amigo começou a gritar do lado deles, sabendo que ele não era daquilo e disse:
“Ah cara!!! Você tinha que ser atropelado antes porra!!!”
E saiu rindo.

Eles depois de algum tempo se beijando foram pra mesa tomar alguma coisa pra manterem o pique, e descançar um pouco, pois ninguém é de ferro.
Passou do lado deles uma menina muito bonita, dando Flyers do que parecia ser uma casa noturna do mesmo dono, ela usava um corpete vermelho, saia preta bem curta e uma meia arrastão.
Realmente era uma mulher maravilhosa, ele aceitou o papel e foi olhá-lo, a menina loira estava sentada no seu colo e estava beijando seu pescoço, ele disse que daquele jeito ele não conseguia se concentrar em nada,e num instinto de não querer jogar nada fora, colocou o papel do jeito que deu no bolso.
Não ia deixar a sua parceira esperando.

Eles foram pra casa dele, e ele aprendeu ali a fazer sexo apenas por fazer, sexo apenas pro seu prazer momentâneo, duas pessoas que se amam, mas que se amam só durante aquelas horas, e depois fingem que não se conhecem.
Ele aprendeu aquilo, e viu que poderia muito bem conviver com essa situação sem sentir nenhum pingo de remorso ou arrependimento.
Ele acordou pela manhã e foi ao banheiro, onde achou a sua calça jogada no meio do corredor, achou graça da situação, e pegou a calça pra jogar em cima do sofá, o flyer caiu do bolso.
Ele pegou pra ler, era um daqueles de duas faces, primeiro leu a parte da frente, se tratava de uma boate com mulheres que faziam lap dancing, aquelas danças sensuais num poste.
Já era bem conhecida, ele mesmo tinha ouvido falar dela, mas nunca quis ir até lá, virou a página e tinha a foto das meninas que se apresentavam por lá, ficou olhando sem se apressar muito, e tentou ver se achava a menina que tinha entregue os flyers, e a achou.
Continuou olhando mais pra ver se achava mais alguma menina interessante, e realmente achou, achou Melissa no meio de todas elas...

domingo, 19 de abril de 2009

A Carta (11)

Ficou olhando aquele papel ali na sua mão, da mulher que ele tanto queria conhecer, daquela que por alguns minutos fez a vida dele mudar repentinamente, ele poderia ter morrido atropelado, poderia ter morrido nas mãos dos bandidos, poderia ter morrido de amores por ela...

Pensou em jogar aquela merda daquele papel fora, rasgar, apagar, queimar ele de sua memória.
Mais uma vez ele tinha confiado nas pessoas erradas, e mais uma vez o seu instinto não o ajudou muito, maldita hora que ele não pegou aquele ônibus, ele estaria com certeza em outra situação.
Mas pensando melhor, ele sempre ouvia de sua mãe que tudo tem um motivo, ele poderia ter pego
o ônibus, mas a sua vidinha continuaria aquele mesmo tédio de sempre, onde a coisa mais interessante seria ficar jogando seu video-game nas madrugadas de Sábado, a coisa mais perigosa seria comer a pizza gelada dos dias anteriores,

Colocou o papel no bolso, e foi andando até o ponto de ônibus, mas toda hora colocava a mão perto do rosto pra poder sentir o cheiro dela, e aquilo só fazia aumentar a sua curiosidade, o que será que estava escrito ali?
Será que ela pedia desculpas?
Será que marcava um encontro com ele?
Ele só ia conseguir achar essa resposta quando chegasse em casa, pois ele era meticuloso demais com as coisas que ele julgava importante, e essa era uma daquelas coisas importantíssimas, que ele só abriria quando chegasse em casa, depois de sentar no seu sofá e ler com bastante atenção.

Tirou o papel do bolso, mais uma vez o cheirou e por um instante se sentiu do lado dela de novo, colocou-o em cima da mesa em frente ao sofá e pôs o telefone em cima, aquilo o fez lembrar que depois tinha que fazer umas ligações, pra dar notícias pras pessoas que o amavam, eram poucas, mas mesmo assim ele tinha de fazer.
Jogou a mochila em cima do sofá, tirou a roupa e foi tomar um banho.
Saiu do banheiro revigorado, como se a água tivesse lavado todo mal que havia nele, como se tivesse ajudado ele a acordar pra vida que se desenrolava na sua frente, uma vida nova e talvez, cheia de alegrias e o que ele mais gostava daquele momento um diante: Incertezas.

Colocou um short de ficar em casa e se sentou no sofá, pegou o telefone e começou a ligar pras pessoas que mereciam uma notícia sua.
A primeira de todas é claro, foi a sua mãe.
Ela chorou muito ao saber que ele estava bem, e como era uma mãe compreensiva, deixou que ele não se prolongasse na conversa, dizendo apenas que o amava, e que era pra ele descançar, e ai sim depois ir na casa dela contar tudo em detalhes.
Depois ele ligou pra sua melhor amiga, que tinha sérios problemas com a felicidade, sempre achava a sua vida uma merda total, e tinha nele um amigo onde podia fugir durante alguns momentos de sua depressão crônica.
Ela lhe disse que como em muitas outras vezes, queria se matar, mas que daquela vez seria de uma vez por todas, já que ela não teria nem o prazer de passar alguns momentos na companhia dele.

Se despediu dela e disse:
“Se cuida minha gótica preferida, você diz que Deus não te ama, mas pelo menos eu sou seu anjo”
Deu uma risadinha e finalmente colocou o telefone na base.
Pegou aquele papel que estava amassado, ficou olhando ele por alguns minutos, fechou os olhos e ficou sentindo a energia dela que estava ali naquele pequeno pedaço de papel, lembrou do seu rosto nitidamente, da chuva, do perfume dela, e cheirou mais uma vez o papel.
Fez daquilo quase que um ritual sagrado, lindo, cheio de significado e amor.
Foi abrindo o papel, dobra após dobra.

Quando ele abriu o papel por completo, fechou os olhos e respirou fundo pra depois abrir os olhos e ler.
E lá tinha um recado muito rápido, mas que dizia muita coisa, pelo menos pra ele, que esperava pelo menos saber alguma coisa daquela mulher.
A letra dela era bem desenhada, parecia típica de uma pessoa calma, que estudou bastante também.
Pois naquele recado rápido, mas esclarecedor, ele não achou nenhum erro sequer, logo ele, que era tão crítico com o seu modo de escrever corretamente, que ele na maioria das vezes corrigia as pessoas sem querer, ele não consegui se controlar.
E no papel estava escrito:

“Me perdoa por favor. Eu tinha meus motivos, mas fiz de tudo pra corrigir meu erro. Melissa.”
Ele ficou paralisado, não pelo recado em si, mas só por saber o nome da mulher que o fizera ter os dias mais insanos de sua vida, e mal sabia ele, que ela faria ele ter os melhores sonhos e os piores pesadelos que uma pessoa pode ter...

sábado, 18 de abril de 2009

Chegando Perto Dela (10)

Mais uma vez ele se perde no mundo da inconsciência, mas antes disso acontecer ele consegue tirar forças pra esboçar um sorriso, um sorriso de alívio por ter sido salvo pelos policiais, um sorriso de raiva de si mesmo, por ter caído na armadilha que aquela mulher armou pra ele, logo quando ele achava que tinha encontrado uma pessoa que pudesse ser feliz ao seu lado, a única mulher que tinha lhe chamado a atenção em tanto tempo, tinha ajudado num plano pra somente tirar proveito das coisas que ele tinha, e ajudando assim só a aumentar a sua desconfiança perante o mundo, apagou...

Acordou pouco tempo depois dentro de um carro em movimento, e se levantou devagar, estava dentro da viatura policial, um dos policiais lhe disse que os dois caras que o tinham pego já eram procurados há muito tempo, não eram nada demais, mas a organização que estava por trás deles que era realmente forte, eles eram apenas peões que camuflavam as coisas maiores.
O policial lhe disse que ele teria que ir pra um hospital primeiro dar uma olhada na pancada na cabeça, e que eles estavam seguindo pra lá, mas ele se lembrou que fugiu de um hospital público, não se lembrava qual, mas era melhor evitar jogar com a sua sorte, que estava muito boa pra foder com ele.

Então ele disse que não precisava, que depois ele poderia ir para o hospital que a empresa dele tem convênio, que seu plano de saúde era muito bom e que ele quase não o usava, mais uma vez mentiu sobre o plano de saúde, mas dessa vez era realmente necessário.
O policial disse que ele teria que então ir até à delegacia prestar depoimento pra colocar os dois atrás das grades de uma vez por todas, e não seria difícil pois foram pegos em flagrante.
Ele disse que iria sem problema nenhum, e olhou pra parte traseira da viatura, onde estavam os seus dois algozes, e disse:“Quem está rindo agora benzinho?”
Aquilo arrancou gargalhadas dos policiais.
Os dois presos tentaram bater na grade que separava eles dos demais, então o policial do banco do carona mandou eles pararem:
“Fiquem quietinhos ai, estão parecendo dois cachorros de rua num canil”
Mais uma vez todos riram, e o nosso herói achou que seria legal ter esse mesmo poder, o de proteger as pessoas inocentes e desdenhar dos vagabundos.

Eles fizeram o retorno, já que a delegacia ficava do outro lado e eles estavam indo para o hospital, mas como não precisavam mais.
Quando chegaram finalmente até a delegacia, ele desceu do carro e ficou esperando do lado de fora os dois presos saírem também, estavam algemados e com cara de poucos amigos, ele não resistiu e falou:
“Vou jogar limpo com você “Camaradinha”, vou fazer a caveira de vocês”
E entrou rindo, como se tivesse com a alma lavada depois de tantos acontecimentos ruins naqueles dias que passaram, se dirigiu até um banco e ficou esperando ser chamado pra dar seu depoimento.
Ele contou tudo que aconteceu, e mentiu dizendo que fora atacado na rua por eles, e não que estava numa cama de hospital sem memória nenhuma.
O depoimento foi tomado com atenção, e depois ele assinou seu nome na folha de ocorrência e já poderia ser liberado.
E ficou então pensando em perguntar aos policiais se eles sabiam de onde a mulher misteriosa era, saber o seu nome, alguma pista dela, mas achou melhor não perguntar mais nada e ir pra casa, que ele se lembrava muito bem onde era.
Quando ele já estava saindo da delegacia, um dos policiais o chamou:“Ei rapaz, eu tenho uma coisa pra você”
Ele chegou perto do policial, e então ele lhe deu uma folha de caderno um pouco amassada, e o policial disse:
“Você deve ter alguma coisa diferente, essas mulheres não fazem isso por nenhuma de suas vítimas”
Deu uma risadinha e entregou-lhe o papel.
Antes mesmo de ele abrir o papel ele já sabia de quem era, ele podia não ter visto muito bem o rosto da mulher que levou os policiais ao apartamento, mas aquele perfume que exalava da carta, só poderia ser de uma única pessoa nesse mundo...

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Apanhando Mais Uma Vez Da Vida (9)

Nesse momento ele havia recobrado totalmente a sua memória, e com certeza ele nunca havia visto aquele cara na vida, muito menos ele era seu amigo.
Mas achou por bem não dizer nada, iria se passar por desmemoriado mesmo, afinal ele não sabia qual era a intenção daqueles dois.
Depois de algum tempo o companheiro do outro chega onde eles estão, e se acomoda numa cadeira dessas de boteco, de ferro, já muito surrada e velha.
E manda o outro se virar e arrancar alguma coisa dele, senha de banco, onde ele morava,e etc.
Eles estavam perdendo tempo demais com ele,e eles já estavam ficando bastante impacientes com isso, precisavam logo arrancar alguma coisa dele.

Começaram então a ameaçá-lo se ele não parasse de teatrinho e não desse alguma coisa de concreta e de valor pra eles, eles iriam começar a bater, ameaçaram de morte e etc, mas ele sabia que aquilo tudo era um blefe, ele podia estar fraco e desorientado, mas não era tão burro assim, e toda aquela armação que fizeram contra ele, o fez mudar a sua visão da vida naquele instante, jurou pra si mesmo que não iria mais se importar com os sentimentos dos outros.
Se alguém aparecesse na sua frente com algum problema, seja a pessoa um amigo ou uma desconhecida num dia de chuva num ponto, ele não iria nem querer saber de nada, e diria que tem coisa mais importante pra fazer.

E desse jeito, ele começou uma etapa nova na sua vida, a de se fechar mais ainda pro mundo, iria ser a própria personificação do egoísmo extremado.
E aqueles dois seres na sua frente, não passariam de insetos insignificantes, ignorantes e sem um pingo de inteligência.
Prometeu que quando saísse daquela situação de impotência, ele iria ter a sua vingança, a sua doce e bem tramada vingança, mas, no presente momento, só lhe restava ficar ali vendo aquele show de ameaças.

O rapaz que o fora buscar no hospital começa a se exaltar e a gritar com ele, querendo que ele desse logo o cartão do banco e a senha, pra que eles pudessem pegar seu dinheiro e liberá-lo.
Ele sorriu, um daqueles sorrisos de deboche que dá raiva até na mais calma das pessoas e falou:
"Se tivesse algum cartão de crédito comigo, você não acha que me identificariam através dele no hospital seu animal!!!"
Falou aquela frase quase que como tirando mais um peso de sua alma, a timidez e o medo de encarar as pessoas.
E disse mais:
"Se me identificassem eu não ficaria naquele hospital, pois eu tenho plano de saúde"
Isso era uma tremenda de uma mentira, ele não tinha plano de saúde nenhum, mas achou que era a sua hora de brincar de mentir um pouco.

O outro cara que estava sentado na cadeira de ferro, se irritou profundamente e levantou, enquanto isso começaram a bater na porta desesperadamente.
Nada que fosse impedir o que estava pra acontecer, pois o destino dele era incerto, como jamais foi cheio de tantas incertezas quanto aqueles dias de tormento que ele estava passando.
Enquanto o rapaz que foi no hospital buscar ele abria a porta, o outro lhe deu uma pancada com uma madeira atrás de sua cabeça, e quando ele caiu no chão com as mãos amarradas, e mais uma vez antes de perder a consciência, ele vê uma mulher e alguns policiais entrarem no apartamento de armas em punho.
Estava salvo daqueles babacas, mas queria ver quem era a boa alma que o tinha tirado daquela enrascada.
Quando ele consegue olhar pra cima, quase desmaiando, ele vê um rosto meio embaçado, mas não tinha como não se lembrar, era ela...

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Boa Noite Cinderela! (8)

Ele achou muito estranho andar com um celular de brinquedo na mochila, mas podia ser de alguma criança que tivesse deixado na mochila dele, mas como ele de nada se lembrava, ficou apenas olhando aquele celular de brinquedo, que estava quebrado e não funcionava mais.
Largou o celular de lado e se encostou mais um pouco no sofá, estava sentindo um sono enorme, daqueles que por mais esforço que você faça, seus olhos sempre fecham, estava começando a entrar num estágio onde qualquer barulho o fazia acordar e ficar alerta, mas não conseguiu segurar por muito tempo, e adormeceu ali mesmo no sofá, seu amigo não se importaria com isso, muito pelo contrário, ele queria o seu bem.

Não soube dizer ao certo quanto tempo ele ficou apagado, mas sabia que poderia ter sido por muito tempo, pois se sentia fraco demais de tanto dormir.
Abriu os olhos devagar e tentou se espreguiçar, não conseguiu e sentia as mãos formigarem demais, foi nessa hora que ele se deu conta que estava no mesmo sofá ouvindo vozes, seu amigo não estava sozinho e tinha companhia, eles discutiam sobre dinheiro, mas quem não discutia sobre dinheiro nesse mundo?
Foi quando o seu amigo chegou até ele e disse:
"Bom dia Cinderela!"

Aquele foi apenas mais um tapa na cara que a vida lhe dava, no meio de um espancamento de acontecimentos ruins nos últimos dias.
O seu amigo o ajudou a se sentar, pois o formigamentos nas mãos eram por causa que elas estavam amarradas, com os braços pra trás.
Então ele resolveu perguntar:
--"O que está acontecendo cara? Você tá querendo me assustar? Já conseguiu!"
--"E você acha que eu caio nessa de que você perdeu a memória?"
--"Com que finalidade eu mentiria sobre isso?"
--"Vou abrir o jogo logo com você meu camarada, fico até com pena de você, você é o cara mais ingênuo que já caiu nas minhas mãos. O negócio era pra funcionar da seguinte forma: A menina que eu mandei pra ficar com você no ponto, fez o trabalho dela quase perfeito, mas alguma coisa deu errado com ela e ela jogou essa porcaria de celular de briquedo longe, era pra ela simular uma briga com um namorado dela, e começar a puxar assunto com você, ela iria pedir pra você levá-la até a sua casa, pois estava muito abalada e como ela é linda demais, nenhum homem recusaria essa oferta."

Ele como realmente não se lembrava de nada, ficava ali ouvindo aquele homem falar as coisas, prestando bastante atenção, e então ele estava começando a entender o que tinha acontecido com ele.
O "amigo" dele continuou:
"Ela chegaria na sua casa e pediria alguma coisa pra beber, enquanto você fosse pegar a bebida, ela me passaria uma mensagem com o seu endereço bem bonitinho, dessa vez no celular de verdade.Hahaha.
Então ela ia te seduzir e você ia se achar o cara mais sortudo do mundo, e depois disso, ela colocaria uma surpresinha em alguma coisa que você fosse comer ou beber, e eu chegaria pra limpar sua casa, ela sempre foi muito boa nisso, mas aquele dia eu não sei mesmo o que aconteceu que ela não fez o que sempre fazia."

Depois disso, ele começou a se lembrar do que aconteceu naquele dia, da chuva, dos carros, do perfume, mas só não conseguia se lembrar do rosto dela...

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Conhecendo A Rua (7)

Ele se levantou e foi até o médico de plantão para poder pegar as suas coisas e sair. Mas não poderia ser fácil assim, pois ele tinha perdido a memória e não era permitido sair naquelas condições, então o rapaz que o tinha ido buscar, pegou apenas a mochila dele e fez ele entrar no banheiro pra se trocar e colocar uma roupa normal.
Enquanto ele se trocava ficou imaginando que aquele cara devia ser muito louco, pra tirar ele dali daquele jeito.
Ele saiu do banheiro com uma camiseta preta e uma calça jeans, então eles sairam do hospital sem serem questionados, os enfermeiros estavam ocupados demais com a emergência que estava completamente lotada e movimentada, como sempre.

Eles foram andando pela rua enquanto conversavam, o rapaz dizia que em poucos dias quando ele conversasse com todo o pessoal, e encontrar novamente os amigos, ele recuperaria a memória bem rápido.
Ele não conhecia o rapaz, mas confiou nele cegamente, pois ele tinha uma conversa bem agradável, apesar de parecer bem fora do comum.
Foram andando até um estacionamento onde entraram num carro velho, bastante avariado, com os estofados furados, o teto rasgado, e um cheiro insuportável de cigarro e uma coisa mais enjoada, que depois de alguns segundos, ele descobriu que era de vômito.

O carro era totalmente detonado, mas conseguia andar com muito esforço, e ele ficou se perguntando como aquele cara não tinha vergonha de andar com um carro daqueles.
O rapaz disse então que eles iam pra casa dele pra ele poder descançar melhor, e comer uma comida que não fosse a de hospital.
“Nada como um hamburguer bem gorduroso pra se sentir em casa meu velho!”
Depois desse comentário ele sorriu, e parou numa barraca de lanches e comprou dois sanduiches, que vinham com um refresco de maracujá.
Ele ficou esperando no carro, e o rapaz então trouxe os lanches, ele primeiro bebeu todo o refresco e guardou o lanche pra depois, pois aquele cheiro ali dentro não deixava ele comer nada, era horrível demais.

Chegaram finalmente na casa do rapaz, ele estava sentindo um sono muito forte, devia ser por causa dos sedativos que tomava no hospital.
A casa do rapaz era muito bagunçada, tinham vários objetos jogados pela casa, aparelhos eletronicos, caixas de papelão, e se espantou de ela não estar mais caída que o carro dele.
Ele se sentou e começou a comer o lanche enquanto o outro rapaz foi ao que parecia ser o banheiro, e gritou de lá:“Dá uma olhada no celular que ta na sua mochila”
Ele olhou, era o celular que a mulher misteriosa havia jogado longe, o celular que o fizera ser atropelado, mas ele de nada se lembrava.
Ele pegou a mochila e abriu o zíper com a maior calma do mundo, e quando ele olhou o celular de perto, ele constatou uma coisa que deixou ele com um arrepio no corpo todo: O celular era de brinquedo...

terça-feira, 14 de abril de 2009

Saindo Do Hospital (6)

Agora ali deitado, ele teria muito tempo de pensar nessa sua vida que ele não lembrava direito.
Ficou puxando do fundo da sua mente todas as informações que fossem possíveis, se esforçou tanto que lhe deu dor de cabeça, mas uma dor a mais não iria fazer diferença.
Até que conseguiu se lembrar um pouco mais das coisas, e agora as lembranças de sua infância eram as únicas coisas das quais ele conseguia se lembrar nitidamente.
Lembrou da época em que brincava na rua com os amigos, não era isso o que ele mais fazia na infância, pois ele tinha um fascínio enorme pelos jogos eletrônicos, mas como a sua condição financeira não favorecia, ele tinha que se virar com o que tinha, e foi desde essa época que ele aprendeu a se transformar e se adequar às adversidades da vida.

Agora ali do lado de sua cama tinha uma criança conversando com a mãe, e fazendo milhares de perguntas sem nexo, mas como uma criança pode ser coerente?
Crianças são apenas crianças, e são puras de alma, verdadeiras ao extremo e sempre sinceras.
As crianças não sabem mentir, se fazem uma besteira em casa, logo se acusam, mesmo sem saber que o estão fazendo.
Ele riu sozinho com esses pensamentos que teve, e ficou pensando mais sobre esse assunto de sinceridade.
Ao contrário das crianças, nós os adultos, aprendemos a contar nossas mentiras tão bem, que se não fossem fictícias, teriam realmente acontecido.
Se tivéssemos mantido esse coração puro e essa ingenuidade das crianças, não sofreríamos tanto, já que na concepção dele, a verdade era dolorosa, mas as mentiras são muito piores.

Pensando nisso, ele se lembrou de mais uma coisa:
Depois de vários anos de vida com sua família, ele descobrira sozinho que tinha sido adotado, tinha por volta de seus 18 anos, com todas as incertezas da vida, sem saber o que ele realmente queria seguir como carreira, o alistamento no exército que ele achava uma tremenda palhaçada, os conflitos internos por ser muito introvertido, os poucos amigos que tinha, e o seu grande problema de timidez que o deixava furioso, ele descobre que é adotado no meio desse furacão todo.

Ele não ficou com raiva de sua família, afinal de contas eles o criaram da melhor forma possível, e se tinha uma coisa que ele sabia reconhecer na vida, era o sacrifício dos outros.
Só ficou chateado de não saber de suas origens, de saber que o sangue que corria nas suas veias não eram de seu pai e de sua mãe de adoção, mas na alma ele sentia que pertencia aos dois.
Acordou dos pensamentos com a criança puxando o pé dele, quando ele olhou pra ela, ela saiu correndo como se ele fosse um bicho-papão e dando gargalhadas.
A mãe da criança se desculpou e ele disse que não tinha problema nenhum.
Ele até que gostava de crianças, mas se convivesse com alguma durante muito tempo se estressava muito fácil.

Ele nunca entendeu muito essa sua implicância com as crianças, deveria ser algum trauma de quando ele era pequeno, e de como ele lembrava como se fosse hoje, a maldade que as crianças faziam com as outras quando não estão sendo observadas.
Sempre tinha um grupinho em alguma festa que ele ia, que se juntava e como ele não era amigo deles, sempre faziam maldades, ficavam o empurrando, tirando sarro, e etc.
Sua mãe nunca entendia o motivo de ele ficar sempre sentado no seu colo nas festas de crianças, e ele era orgulhoso demais já naquela época, a ponto de pedir ajuda a quem quer que fosse, então fugia assim dos problemas.

Mais uma vez sentiu alguém mexendo no seu pé, mas dessa vez não era a criança, era um homem da mesma idade que ele, ele veio ao encontro dele e disse:
"Você é maluco seu filho de uma puta? A gente tá te procurando a uma semana já seu merda!"
Ele não sabia quem era, mas pra falar com ele desse jeito, devia ser seu amigo...

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Renascendo (5)

O médico então lhe conta detalhadamente o que tinha acontecido, pra ver se aquele homem que estava ali deitado lembrava de alguma coisa.
Disse que ele estava parado no meio da rua num temporal, e que fora atropelado por um ônibus, mas pra sorte dele chamaram o socorro e eles chegaram rapidamente até ele.
O médico lhe disse que pensaram que ele era um suicida, e que ele ficaria sobre observação durante alguns dias, e depois faria uma avaliação psicológica, pra saber se estava tudo bem com ele, fora essa amnésia.
Ele ficou ali ouvindo aquilo tudo como se fosse um pesadelo, que a qualquer hora ele fosse acordar e nada daquilo teria acontecido.

Mas ele estava mesmo na vida real, e nada daquilo era mentira.
O médico então lhe passou a sua mochila com seus pertences, ele pegou-a e colocou em cima da barriga, ele não estava com cabeça pra fazer nada racional naquele momento.
Então o médico se retirou e o deixou sozinho, sozinho era modo de dizer, pois ali naquele grande hospital público, ninguém nunca tinha um pingo de privacidade.
Várias pessoas gemendo de dor, crianças chorando, pessoas inválidas sujas com suas reclamações exaltadas, e as enfermeiras com cara de que aquilo ali tudo não passava de brincadeira de criança, já era um ambiente normal para elas.

Ele então perguntou a uma das enfermeiras a quanto tempo ele estava ali, ela leu num papel que estava na beira de sua cama e lhe disse:
"Nossa, você é o rapaz do atropelamento! Todo mundo aqui do hospital comenta de você, Deus deve gostar e muito de você!"
Ela deu uma risada pra ele, logo a mais séria das enfermeiras, e aquilo lhe deu um ânimo maior, afinal de contas ele sempre gostava que as pessoas sorrissem pra ele, mas ele raramente fazia o mesmo.
Então ele deu um sorriso e quase caiu na gargalhada, mas a dor que ele sentia no peito era muito grande, ele logo concluiu que devia ser por causa do impacto.
E depois a enfermeira lhe disse:
"Você está aqui a uma semana menino"

Aquilo pra ele foi um choque, mas ele se sentiu muito grato pelo esforço que os médicos devem ter feito para salvá-lo, e agradeceu isso falando pra aquela enfermeira, que parecia ser uma daquelas mãezonas severas, mas cheia de amor no coração.
Então ela veio pra perto do rosto dele, se inclinou e deu um beijo carinhoso em sua testa, depois fez um afago em seus cabelos, e disse:
"Dorme meu anjo, deixa eu guardar essa mochila aqui"

E então ele começou a se lembrar de fragmentos de sua infância, mas a única certeza que ele teve naquele momento, era que ele nunca tinha visto o rosto de sua mãe...


domingo, 12 de abril de 2009

Perdendo A Grande Chance De Sua Vida (4)

Ainda espantado com aquela situação que se desdobrara tão abruptamente na sua frente, ele por instinto
materialista, correu atrás de pegar o celular dela do chão, pois seria uma oportunidade de poder
entregar o objeto depois.
Mas quando ele chegou a pegar o celular do chão completamente molhado, que foi perceber a besteira
que tinha cometido, seria muito mais humano da parte dele ir atrás dela e e interferir naquela situação
que ela se encontrava.
Mas já era tarde demais, aquela mulher desesperada e sozinha já tinha desaparecido no meio do temporal
naquela cidade enorme e cheia de perigos.

Ficou pensando o quanto ele foi burro e egoísta de não ter pensado nela primeiro, e sim na merda do
celular, sentiu uma raiva tão intensa que sentiu vontade de quebrar o celular de vez, fazê-lo em pedaços
de sucata.
Mas aquela voz que ele sempre tinha em sua mente, lhe dizia pra guardar o celular, naquela chuva toda
não tinha como saber se tinha estragado de vez, e então ele pensou com a voz da razão e colocou-o
dentro de sua mochila, mais tarde quem sabe ele não podia achar alguma pista daquela moça misteriosa
naquele bendito celular.

Ficou pensando nas ironias da vida, a uns segundos atrás ela estava do lado dele, eles estavam se olhando, foi só o celular tocar pra ela ler a mensagem e sair correndo insanamente pela chuva.
Era a oportunidade perfeita que ele tinha de mostrar que era um homem protetor, e atencioso.
Quem sabe uma chegada triunfal por trás dela, a segurando, levando-a para algum canto e faze-la olhar nos olhos dele, bem de perto, mostrar que ele sabia se comunicar apenas com um olhar.
E depois disso ele à levaria para um lugar mais calmo, eles conversariam, ele iria dizer palavras de conforto, ou então iria somente ficar olhando pra ela, contemplando a paz que só o silêncio pode trazer a uma alma perturbada como a dela.

Mais uma vez um raio o fez acordar daqueles devaneios, ele então olhou para o relógio, estava muito atrasado para o trabalho e ficou pensando em que desculpas daria para justificar seu atraso.
Ou então pensou em mesmo não ir trabalhar e ficar em casa pensando nela, vasculhando o celular dela atrás de informações sobre sua vida.
Mas não seria preciso dar desculpas, pois ele esquecera que estava no meio da rua, e como os segundos naquele dia estavam demorando eternidades, ele pensou que estava seguro na calçada, ledo engano.
Quando ele olha pro lado ele vê uma luz forte, vindo em sua direção, será que era um anjo?
Não era mesmo um anjo, era o seu ônibus que freiava e piscava os faróis em vão, pois a pista escorregadia não deixava aquele monstro enorme parar, ele fechou os olhos e a última coisa que lhe veio na mente, foi o rosto dela, aquele lindo e inesquecível rosto, foi acertado em cheio pelo ônibus e foi arremessado pra longe...

Acordou um tempo depois, não sabia onde estava, só ouviu uma voz masculina lhe falando ao longe:
"Que sorte você teve rapaz, ficou entre a vida e a morte! Como não achamos seus documentos nas suas coisas, preciso que me diga seu nome para colocar no prontuário. Qual seu nome meu filho?"
E ele sem saber o que aconteceu, responde:
"Não me lembro"...

sábado, 11 de abril de 2009

O Olhar Apaixonado (3)

...Durante segundos intermináveis, que pareciam se arrastar durante séculos, eles ficaram ali um olhando pro outro.
Nem em seus sonhos mais lindos, nem mesmo aquela mulher idealizada que cada homem tem em sua mente, chegaria perto daquela beleza estonteante que fazia ele gelar por completo.
Nem que sua vida dependesse de sussurrar algumas palavras desconexas, ele morreria naquele momento, pois aquele rosto branco, as sobrancelhas perfeitas que pareciam que nunca precisavam de ajustes, o rosto de traços angelicais, e os olhos inchados e cheios de lágrimas, o fizeram paralizar.

Mesmo com o rosto manchado pelo lápis que escorria dos seus olhos castanhos, ela mais parecia uma daquelas estátuas bem talhadas, daquelas que você fica admirando durante alguns minutos, tentando sentir de onde seu escultor tirou tanta inspiração para faze-la.
Ele não pode deixar de perceber seus lábios brancos, mas ele concluiu que devia ser por causa do frio intenso que estava fazendo.
E ele se sentia com cada vez mais raiva de si mesmo, por não ter coragem suficiente para lhe oferecer o seu casaco, além de um jesto de boa-vontade, ele mostraria que era um perfeito cavalheiro e que se importava com ela.

Mas ele estava ocupado demais olhando aquela mulher linda, agora sim ele tinha certeza de que não haveria outro adjetivo, senão esse: Linda.
Uma beleza daquelas que ele tinha tentado decifrar somente pelo perfume dela, pelo cabelo, pelo jeito de sentar, e ele tinha medo de se decepcionar, de ela não confirmar as suas expectativas.
Desde um tempo atrás, na verdade algumas semanas, ele aprendera a não dar muita asa pra sua imaginação, mas aquela mulher havia lhe passado todas as melhores previsões possíveis, o rosto dela estava em perfeita simetria com tudo que ele podia tentar em sonhar com uma mulher perfeita.

Eis que no meio daquele momento de contemplação do rosto de sua misteriosa linda, que estava ali, tão perto dele, mas ao mesmo tão longe, separados pela barreira da indiferença e do medo, o telefone celular dela toca.
Ela leva um susto e os dois voltam à vida real, chuva forte,relâmpagos,raios por todos os lugares caindo por cima dos prédios, um caos daqueles de perder a direção.
Pega o celular, é uma mensagem, ela lê com cuidado chegando o celular pra bem perto do rosto, seu semblante de triste muda pra uma cara de desespero, ela se levanta do banco e joga o celular longe, com um ódio tão grande que fez ele chegar até o outro lado da rua, ele fica sem entender nada.
E num movimento de desespero, ela dá um grito ensurdecedor como se fosse questionando Deus querendo saber o motivo do seu sofrimento, e sai correndo cambaleante e sem destino pela tempestade forte...

sexta-feira, 10 de abril de 2009

A Natureza Faz A Sua Parte (2)


... Então ele seguiu a sua intuição e ficou ali parado durante algum tempo, até tomar coragem de se sentar no mesmo banco, pra ficar um pouco mais perto daquela criatura misteriosa que estava fazendo ele perder seu horário, pois apesar de ele odiar a rotina do seu trabalho, ele cumpria com as suas tarefas exemplarmente, pois ele nunca gostou de ser cobrado, nem por nada e nem por ninguém.


E ela ali, parada, impassível, parecia que ela só procurava um lugar pra se abrigar da chuva e chorar, colocar pra fora todas aquelas lágrimas que com certeza não eram de felicidade.
De repente, ela começou a chorar mais forte e a soluçar, como se fosse uma criança que acabara de apanhar da mãe, e deu uma vontade enorme e surpreendente de querer abraçá-la, poder confortá-la, surpreendente sim, pois até ele mesmo se espantou com aquilo, uma pessoa que mal se importa com si mesma, querendo demonstrar afeto por outra pessoa, ainda mais uma desconhecida.

Ele ficou tentando decifrar a dor dela, milhões de coisas passaram pela cabeça dele, briga com o namorado, assalto, se ela tinha perdido o emprego, mas ele não tinha como saber isso, ele nem sequer tinha visto o rosto daquela mulher.
Mais uma vez ele se pegou hipnotizado por aquele perfume, que agora estava mais forte, juntando com o cheiro da terra molhada, fazendo ele sentir um turbilhão de sensações, parecia que ele podia tocar, sentir o gosto daquela mulher somente pelo seu cheiro.


Ele começa a olhar pra frente, os carros passando com cuidado naquela chuva forte, não havia uma pessoa sequer que se arriscasse a andar a pé naquele temporal, estavam só ele e ela ali, parados, um ao lado do outro.
E ele ficou se perguntando:
"Será que ela me viu aqui?"
Impossível não ter notado a presença dele ali, ele tem uma mania de mascar chicletes de canela o dia inteiro, sem contar no barulho que o zíper da mochila fez, e o fato de ele ter sentado no mesmo banco.
Então ele pensou o que realmente tinha acontecido, ela simplesmente tinha ignorado a sua presença ali, e isso deixava ele cada vez com menos coragem de fazer alguma coisa.

Agora ele começa a reparar no que aquela mulher estava vestindo, ela tinha uma saia bem longa, toda preta, e uma bota daquelas de couro com um salto bem alto.
Ele estava se concentrando naquele cabelo ruivo, molhado pela chuva e com uma beleza natural que ele jamais tinha visto, parecia que nada podia macular a beleza daquela mulher estranha, então ele fingiu tentar ler um cartaz que estava colado no vidro do ponto, somente para se inclinar e chegar mais perto do cabelo dela.

A vontade que ele sentiu na hora era de tomar aquela mulher nos braços, e beijá-la apaixonadamente, segurando ela pelos cabelos, e apertando o corpo dela contra o dele, mas ele se conformou em apenas passar o dedo indicador de leve, no cabelo dela que estava nas suas costas.
Depois que ele fez isso ele se sentiu um pouco mais confiante, afinal de contas, ela era de verdade, não era uma imaginação da sua mente fértil, ela a tinha tocado, sentido seu perfume...

Relâmpagos começam a aparecer por entre as nuvens, e ele pensou que não demoraria pros trovões chegarem ensurdecedores.
E ele estava certo, quando ele estava olhando pro céu, viu um raio ao longe, daqueles que rasgam os céus como se fosse o dia do julgamento final.
Logo depois, aquele estrondo enorme, que ele levou um susto e por instinto olhou pro lado e fechou os olhos fazendo uma careta, eis que quando ele abre os olhos, ela estava ali, do lado dele, alerta, não tinha mais a cabeça baixa, estava ereta como se fosse numa aula de postura.
E finalmente, ela olha pro lado dele, e pela primeira vez eles trocam olhares, e ficam se fitando, sem dizerem palavra...

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Acordando Pra Vida (1)



Segunda-Feira, 7 horas da manhã.
Ele se levanta pra mais um dia de tormento, mais um dia de tédio no trabalho.
Como se já não bastasse o seu mau-humor clássico, pra ajudar um pouco a piorar as coisas, estava chovendo e fazendo um frio de bater os queixos, daqueles que dá vontade de ficar enterrado no colchão e usar um cobertor como a tampa do caixão.
Finalmente toma coragem pra desligar o chato despertador, que ele estrategicamente colocou no chão, na porta de entrada do quarto, pois se ele estivesse perto demais dele, era bem provável que ele o atirasse longe e jamais iria levantar da cama, pra nada.
A sua vida era uma monotonia de fazer frente aos suicidas mais experientes, daqueles que sempre esperam a morte.


Tomou seu banho frio, pra despertar mais ainda, vestiu sua roupa e foi para a cozinha tomar seu café quase frio, do dia anterior, dia esse que ele queria esquecer, como todos os domingos de um solteiro anti-social, que não tinha amigo nenhum, pois a sua presença não era muito bem-vinda, pois ele era um crítico na raiz da sua alma, não conseguia olhar pras pessoas sem julgá-las.
Saiu de casa com seu guarda-chuva velho, e foi andando rapidamente pro ponto de ônibus sem prestar atenção em nada na sua frente, apenas conseguiu perceber um perfume doce e suave de um vulto negro que passou correndo do seu lado, um perfume misterioso e agradável, mas ele estava concentrado demais em chegar logo no seu destino.


Chegou rapidamente no ponto, se abrigou da chuva e fechou seu guarda-chuva, colocando-o em uma sacola de mercado e depois abriu a mochila e enfiou dentro com raiva.
Mas ele começou a ouvir um barulho abafado, bem baixinho, que nem mesmo o seu coração cinza e feito de pedra não conseguiria deixar de notar, era aquele vulto negro de perfume misterioso que estava ali, sentada naquele banco imundo, de cabeça baixa e chorando baixinho.


Ele só deu pra ver que o cabelo da moça era ruivo, mas um ruivo bem suave, daqueles que não é vulgar,e as unhas bem feitas pintadas de preto.
Ele ficou ali parado sem saber o que fazer, ficou imaginando:
"Será que eu pergunto o que está acontecendo?"
Mas, como ele sempre dava sorte com as mulheres, era bem provável que ele levasse um tapa na cara, afinal de contas ele nunca havia falado com uma estranha antes.
Passados alguns minutos, ele viu que seu ônibus estava chegando, mas tinha alguma coisa dizendo pra ele ficar ali naquele ponto, perto daquela mulher que ele sequer havia visto o rosto.
E mal sabia ele, que naquele dia chuvoso de segunda-feira, a sua vida iria mudar pra sempre...