quarta-feira, 13 de maio de 2009

Desespero (28)

Parecia brincadeira, uma grande ironia do destino, de novamente estar chovendo como na primeira vez em que se viram, mas desta vez o vínculo que já havia entre eles, fez Filipe esquecer de tudo que seria racional naquele momento, ir até um hospital pra poder parar aquele sangramento que não o incomodava nem um pouco, a não ser pelo fato de sentir seu sangue quente se misturando com a chuva fria em seu braço.
Não se comparava à tempestade do primeiro dia, mas por já ser de madrugada e fazer frio, aquela chuvinha estava piorando a situação daquela noite que era pra ser a melhor de todas.
Eram poucas nuvens e não demoraria muito para acabar, estava estranho demais, dava pra ver a Lua por entre elas e ajudava assim, a aumentar a sua coragem.

Foi caminhando com os olhos vidrados, com a concentração e adrenalina explodindo.
Viu um casal parado debaixo de uma marquise de um bar que já estava fechado, foi se aproximando até eles e percebeu que a menina foi para trás do namorado, num gesto de medo, Filipe quase se esquece que ele era um louco andando na chuva e com um corte no braço, mas não havia tempo para explicações.
Deu a descrição de Melissa para o rapaz, que o indicou o caminho apenas com o dedo indicador sem dizer nada.
--Obrigado, desculpa assustar.
Saiu correndo em direção ao local, mas não sabia exatamente onde ela poderia estar, a única coisa que tinha que fazer era confiar na sua intuição, e pedir um pouquinho da ajuda dos céus.

Ouviu um carro se aproximando rapidamente dele, eram as meninas que estavam preocupadas com o que tinha acontecido, Jessy saiu e mandou parar:
--Você tá maluco? Já não acha que foi longe demais nessa história? Olha pra você.
E apontou pro seu braço que não parava de sangrar, enquanto isso Pri saia do carro aflita pra ver a gravidade do corte, olhava seu braço sem Filipe nem sentir, ele estava anestesiado por tudo, pela situação, pela chuva e pela frustração.
No que ele voltou a si e respondeu:
--Desculpa, mas eu já fui longe demais mesmo. Por isso não vou desistir assim. Volta pro carro e me deixa fazer a minha loucura, essa mulher me trouxe vida, ela me ensinou a viver sem ter medo, e eu não tenho medo de mais nada, só de nunca mais encontrá-la.

Jessy sabia que não adiantava tentar fazer ele voltar atrás, entraram no carro e foram indo em frente, Pri ficou preocupada em tê-lo deixado sozinho,mas confiava no que Filipe fazia, era uma das pessoas mais corretas e sensatas que já tinha conhecido.
Sabia que se viraria bem, e chegaria em casa sem mais confusões, mas tudo que tinha acontecido com ele por causa de Melissa, ela começava a sentir raiva, uma raiva misturada com ciúmes.
Não se conformava por ele ir atrás de uma mulher que sequer o tenha beijado, coisa que ela já tinha feito várias vezes, quase se deixa cair em tristeza, mas se lembrou que Filipe odeia pessoas inseguras, e mesmo estando assim, não poderia demonstrar aquilo.

Continuou seu caminho na noite fria à procura de Melissa, e não pararia nem que tivesse que rodar o Rio de Janeiro todo.
Foi chegando em uma praça grande e bastante iluminada, cheia de árvores e flores que deixavam o ar muito agradável, foi por um caminho que parecia ter sido planejado com muito cuidado, pois as “paredes” eram todas feitas de árvores grandes, criando um ar acolhedor, mas que naquela hora parecia ser um pouco sombrio.
As flores foram ficando pra trás e com elas seu perfume, o barulho da chuva era abafado pelas grandes árvores que o cobriam como se fosse um imenso telhado de verde, só sentia o cheiro da terra molhada misturada com a neblina que fazia.

Já estava cansado demais, e já começava a andar mais devagar, foi ai que teve reção a dor em seu braço, colocou a mão por cima pra aliviar um pouco a dor que começava a sentir.
Conforme seu corpo ia dando sinais de reação, a dor, o cansaço e o frio, começou a dar um nó na garganta e uma vontade enorme de chorar, e como não era um choro de felicidade e sim de raiva, de ódio e de impotência, deu um berro pra se libertar daqueles sentimentos:
--MELISSA!!!!!!!!!!!!!!
Se sentiu fraco demais depois disso, como se tivesse levado uma grande surra e caiu de joelhos no chão, desabando em lágrimas e se afundando em seus próprios pensamentos.
Ficou naquela situação durante alguns minutos sem se dar conta de mais nada, apenas chorava e colocava pra fora tudo de ruim que estava em seu coração, foi quando ouviu uma voz chorosa e meiga:
--Estou aqui...

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