domingo, 19 de abril de 2009

A Carta (11)

Ficou olhando aquele papel ali na sua mão, da mulher que ele tanto queria conhecer, daquela que por alguns minutos fez a vida dele mudar repentinamente, ele poderia ter morrido atropelado, poderia ter morrido nas mãos dos bandidos, poderia ter morrido de amores por ela...

Pensou em jogar aquela merda daquele papel fora, rasgar, apagar, queimar ele de sua memória.
Mais uma vez ele tinha confiado nas pessoas erradas, e mais uma vez o seu instinto não o ajudou muito, maldita hora que ele não pegou aquele ônibus, ele estaria com certeza em outra situação.
Mas pensando melhor, ele sempre ouvia de sua mãe que tudo tem um motivo, ele poderia ter pego
o ônibus, mas a sua vidinha continuaria aquele mesmo tédio de sempre, onde a coisa mais interessante seria ficar jogando seu video-game nas madrugadas de Sábado, a coisa mais perigosa seria comer a pizza gelada dos dias anteriores,

Colocou o papel no bolso, e foi andando até o ponto de ônibus, mas toda hora colocava a mão perto do rosto pra poder sentir o cheiro dela, e aquilo só fazia aumentar a sua curiosidade, o que será que estava escrito ali?
Será que ela pedia desculpas?
Será que marcava um encontro com ele?
Ele só ia conseguir achar essa resposta quando chegasse em casa, pois ele era meticuloso demais com as coisas que ele julgava importante, e essa era uma daquelas coisas importantíssimas, que ele só abriria quando chegasse em casa, depois de sentar no seu sofá e ler com bastante atenção.

Tirou o papel do bolso, mais uma vez o cheirou e por um instante se sentiu do lado dela de novo, colocou-o em cima da mesa em frente ao sofá e pôs o telefone em cima, aquilo o fez lembrar que depois tinha que fazer umas ligações, pra dar notícias pras pessoas que o amavam, eram poucas, mas mesmo assim ele tinha de fazer.
Jogou a mochila em cima do sofá, tirou a roupa e foi tomar um banho.
Saiu do banheiro revigorado, como se a água tivesse lavado todo mal que havia nele, como se tivesse ajudado ele a acordar pra vida que se desenrolava na sua frente, uma vida nova e talvez, cheia de alegrias e o que ele mais gostava daquele momento um diante: Incertezas.

Colocou um short de ficar em casa e se sentou no sofá, pegou o telefone e começou a ligar pras pessoas que mereciam uma notícia sua.
A primeira de todas é claro, foi a sua mãe.
Ela chorou muito ao saber que ele estava bem, e como era uma mãe compreensiva, deixou que ele não se prolongasse na conversa, dizendo apenas que o amava, e que era pra ele descançar, e ai sim depois ir na casa dela contar tudo em detalhes.
Depois ele ligou pra sua melhor amiga, que tinha sérios problemas com a felicidade, sempre achava a sua vida uma merda total, e tinha nele um amigo onde podia fugir durante alguns momentos de sua depressão crônica.
Ela lhe disse que como em muitas outras vezes, queria se matar, mas que daquela vez seria de uma vez por todas, já que ela não teria nem o prazer de passar alguns momentos na companhia dele.

Se despediu dela e disse:
“Se cuida minha gótica preferida, você diz que Deus não te ama, mas pelo menos eu sou seu anjo”
Deu uma risadinha e finalmente colocou o telefone na base.
Pegou aquele papel que estava amassado, ficou olhando ele por alguns minutos, fechou os olhos e ficou sentindo a energia dela que estava ali naquele pequeno pedaço de papel, lembrou do seu rosto nitidamente, da chuva, do perfume dela, e cheirou mais uma vez o papel.
Fez daquilo quase que um ritual sagrado, lindo, cheio de significado e amor.
Foi abrindo o papel, dobra após dobra.

Quando ele abriu o papel por completo, fechou os olhos e respirou fundo pra depois abrir os olhos e ler.
E lá tinha um recado muito rápido, mas que dizia muita coisa, pelo menos pra ele, que esperava pelo menos saber alguma coisa daquela mulher.
A letra dela era bem desenhada, parecia típica de uma pessoa calma, que estudou bastante também.
Pois naquele recado rápido, mas esclarecedor, ele não achou nenhum erro sequer, logo ele, que era tão crítico com o seu modo de escrever corretamente, que ele na maioria das vezes corrigia as pessoas sem querer, ele não consegui se controlar.
E no papel estava escrito:

“Me perdoa por favor. Eu tinha meus motivos, mas fiz de tudo pra corrigir meu erro. Melissa.”
Ele ficou paralisado, não pelo recado em si, mas só por saber o nome da mulher que o fizera ter os dias mais insanos de sua vida, e mal sabia ele, que ela faria ele ter os melhores sonhos e os piores pesadelos que uma pessoa pode ter...

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